domingo, 7 de dezembro de 2008

Mulher e o mundo

Já que o assunto é mulher e sociedade, vai aqui uma matéria do diretor do Fiz + Sotaques, Leandro Lopes, na qual ele mostra como as mulheres vão conquistando seu espaço no mercado de trabalho. Apesar das diferenças (afinal, elas ganham 5% a menos que os homens), elas mostram sua independência.

LUGAR DE MULHER É... NO COMÉRCIO E NA INDÚSTRIA

Mulheres são cada vez menos donas de casa e cada vez mais donas de seus próprios narizes, em especial, no mercado automobilístico

Por Leandro Lopes

‘Sabem quando a mulher vai ganhar seu lugar ao sol? Quando inventarem cozinha com teto solar!’; ‘O que uma mulher faz na sala? Turismo. Deveria estar na cozinha!’. Pode até soar engraçado, mas as infames piadas só contribuem para propagar preconceito e não, definitivamente, não correspondem com o cenário econômico atual. Em 1976, as mulheres eram 29% da população economicamente ativa no país. Hoje, 44%. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, dos 10,1 milhões de postos de trabalho abertos no Brasil na década de 90, quase 7 milhões foram ocupados pelo ‘sexo frágil’.


Mas a conquista deste espaço não se deu entre um nascer e um pôr-do-sol. Ainda hoje os preconceitos se mantêm e a conquista de respeito é um processo mais lento e trabalhoso quando comparado as classes masculinas. Imagina então quando estamos falando de um espaço predominantemente e historicamente dominado pelos homens, como é o caso da indústria e do comércio automobilístico? O que você faria se soubesse que seu carro teve que ser aprovado em diversos testes por uma mulher antes de sair da fábrica?


Há pouco mais de um ano, a Volkswagen do Brasil incorporou na equipe de testes de rodagem, cinco mulheres que avaliam diariamente ruídos, dirigibilidade e as funcionalidades dos carros antes que eles sejam entregues aos seus clientes. Detalhistas, elas realizam todo o percurso em busca de qualquer imperfeição que possa ter acontecido no momento da fabricação. Em média, cada uma delas avalia 50 carros diariamente. “Algumas pessoas ainda estranham quando conto que dirijo o dia todo. Mas somos tão capazes quanto os homens e, às vezes, até mais detalhistas”, explica Pamela Barrosi. “Quando acordo pela manhã nem parece que estou vindo para a fábrica. Eu me divirto fazendo este trabalho”, diz Fabiane Souza.


Outro bom exemplo é Tatiana Lima, que aos 23 anos, ocupa o cargo de líder de célula na montagem final da fábrica Volkswagen. Ela comanda mais de 50 pessoas, quase todos homens. “Há uma valorização do perfil feminino e batalhei sempre pelas oportunidades que me ofereceram. Fui conquistando espaço e respeito com meu trabalho”, afirma.


Renata Pereira começou na fábrica da Fiat em Betim, Minas Gerais, como estagiária, mas sete anos depois, de degrau em degrau, chegou a diretoria de desenvolvimento e vendas de Mercado Externo. “Eu sempre quis arriscar e sempre olhei para a cultura masculina do setor automotivo como um desafio”, explica o sucesso.

Embora pareçam inusitadas, essas conquistas são cada vez mais comuns. De acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos – Dieese, as principais montadoras do país já empregam mais de 6500 mulheres. Pode parecer pouco, mas é gigantesco quando comparado há menos de cinco anos.


TAL INDÚSTRIA, TAL COMÉRCIO
A conquista das mulheres no ramo automobilístico vai além da esteira de montagem, da mecânica. Enfim, da indústria. Elas também ganham espaço no comércio, nas negociações e no dia-a-dia do setor de locação. Alcançam cargos poderosos e até investem em seus próprios negócios. Maria Aparecida, hoje proprietária da Sólida Locadora de Veículos, em Belo Horizonte, abriu sua empresa em sociedade no ano de 1992 com apenas seis carros usados. “Ficamos, eu e meu sócio, trabalhando quase cinco anos sozinhos e ele tinha um cuidado para deixar transparecer minha competência para os clientes. Isso me ajudou muito”, relembra.
Para Joana Chellini, da Chellini Locadora, o início ainda foi mais difícil. Ela começou sua empresa com apenas um carro financiado e, para pior, a falta de conhecimento no setor acarretou prejuízos. “Por falta de experiência, comecei a levar canos e fiquei decepcionada, mas nunca desisti”, recorda.


Maria Aparecida cita um exemplo que reflete a mudança comercial dos últimos anos. “Quando começaram as reuniões para formação do SINDLOC-MG, eu chegava a ficar constrangida porque quase não tinha mulher. Agora, a gente vai a qualquer evento ou reunião e o número feminino é bem maior. É uma mudança dos tempos, tanto para homens quanto para mulheres. Está havendo um equilíbrio e se está colocando fim aquelas histórias de que isso é para homem e isso é para mulher”.


PRECONCEITO
A mulher parece, hoje, se sentir mais confortável em seu ambiente de trabalho. Mas para nenhuma a caminhada foi simples. “Já tive funcionário que me ameaçou e cliente que chegou a dizer que iria me bater. Demorei muito para aprender a me impor. Antigamente, quando o cliente gritava no telefone, eu tinha vontade de me esconder debaixo da mesa. Agora, eu exijo respeito e o enfrento”.


Já Renata Pereira não concorda com o termo preconceito. “Existem restrições porque a indústria e o comércio automobilístico sempre foram dominados pelos homens. Mas não é por preconceito, e sim por fatores históricos”. Com ou sem preconceito, mulheres como Renata, Maria Aparecida, Fabiane, Pámela, Joana, e tantas outras, exerçam hoje, talvez, mais do que um importante cargo nas suas empresas, e sim, um importante papel na história econômica do país.

Um comentário:

Augusto Paim disse...

É um tema que vez que outra vem à tona. Mas eu nao entendo como ainda hoje se discute isso, a muher no mercado de trabalho. Talvez por eu ser um filho do século XXI, a discusao me parece utlrapassada. Mas nao, a historia das mulheres no mercado de trabalho ainda eh recente, e, por isso, ainda causa admiracaoes.